O autismo é um dos temas mais controversos no universo da saúde mental. Há certamente questões neurológicas envolvidas, mas muitos especialistas trazem também à tona a importância de considerar aspectos relacionais e afetivos ligados ao quadro.

Existem as mais variadas discussões sobre o autismo, mas um dado vem chamando a atenção de pesquisadores, médicos e psicólogos: até nove em cada dez pessoas com diagnóstico de autismo sofrem também de problemas gastrointestinais, em geral doenças inflamatórias e síndrome do intestino permeável.

Nesta última década foram publicadas várias pesquisas a respeito do microbioma intestinal de uma pessoa. O microbioma intestinal é fundamental para a saúde geral de um indivíduo.

Não só afeta as respostas a estímulos negativos e medo, mas regula a saúde mental e o peso. Além disso influencia as chances de desenvolver doenças autoimunes, como diabetes tipo 1 e lúpus.

Um estudo acaba de ser publicado no Jornal de Imunologia, sugerindo uma ligação entre o autismo, como uma condição neurodesenvolvimental, e o microbioma intestinal de uma pessoa.

Os testes foram realizados em cobaias animais. A diferença é que nosso microbioma pessoal não é o fator que influencia se você desenvolve autismo. Ao invés disso, o maior fator é o microbioma da mãe.

Os microbiomas têm a capacidade de moldar cérebros em desenvolvimento de várias maneiras diferentes. É importante para a calibração do sistema imunológico da criança. O microbioma da mãe influencia na forma como o sistema imunológico da criança responde ao estresse, ferimentos e infecções.

O autismo pode estar diretamente ligado a uma molécula, conhecida como interleucina-17a ou IL-17a. Ela é produzida pelo sistema imunológico de uma pessoa. Apontada como causadora ou agravante de doenças como psoríase, esclerose múltipla e artrite reumatoide. Também mostrou desempenhar papéis importantes na prevenção de infecções, particularmente infecções fúngicas. E para seu truque final, parece influenciar como o cérebro de uma pessoa se desenvolve enquanto ela está no útero.

Para testar a hipótese, a equipe de pesquisa bloqueou essa molécula em ratos de laboratório. Ratos fêmeas foram recrutados de dois laboratórios diferentes. Os camundongos, do primeiro laboratório, apresentaram microflora no intestino que os tornou vulneráveis a uma resposta inflamatória induzida pela IL-17a. O segundo grupo, usado como grupo de controle, não.

Quando a equipe bloqueou a molécula de IL-17a por meios artificiais, ambos os grupos de camundongos tiveram filhotes com comportamento neurotípico. Mas quando a situação progrediu sem a intervenção adicional dos seres humanos, os filhotes desenvolveram uma condição neurológica que se assemelhava muito ao autismo.

Para confirmar que isso ocorreu por causa da microflora única no grupo, os pesquisadores fizeram um transplante fecal. Eles usaram as fezes de camundongos do primeiro grupo para mudar a microflora do segundo grupo. Como era esperado, os filhotes no segundo grupo desenvolveram uma condição de neurodesenvolvimento semelhante ao autismo depois que sua microflora mudou.

Esses estudos preliminares não se traduzem necessariamente na gravidez de um humano. Dito isto, há um caminho interessante a se explorar em relação à pesquisa sobre o autismo. Este estudo fornece um argumento forte que a saúde intestinal da mãe tem alguma influência no desenvolvimento de autismo. A partir daí, podemos até extrapolar que outras condições neurodesenvolvimentais também estejam relacionadas ao intestino da mãe.

Os pesquisadores dizem que o próximo passo é ver se existem correlações semelhantes na gestação humana. Eles também precisam examinar qual parte do microbioma da mãe se relaciona com o desenvolvimento do autismo. Várias outras moléculas também precisam ser examinadas. Os pesquisadores dizem que a IL-17a pode ser uma peça de um quebra-cabeça muito maior.

* Nota: As informações e sugestões contidas neste artigo têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

Fonte: Saber Viver Mais