Por: Fernanda Abreu – Psicóloga – Serviço de Acolhimento Institucional/Casa Lar

Conforme definição da Associação Americana de Deficiência Intelectual e de Desenvolvimento – AAIDD (2010), a deficiência intelectual é uma incapacidade caracterizada pela limitação significativa no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, um conjunto de habilidades conceituais, sociais e práticas.

A deficiência origina-se antes dos 18 anos de idade (AADID, 2010, p. 1). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-V (2014), que corrobora com a definição da AAIDD (2010), caracteriza Deficientes Intelectuais os que possuem limitações significativas, tanto no funcionamento intelectual quanto nas habilidades adaptativas, expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas, necessitando de apoio e mais tempo para a apropriação dos conhecimentos.

No entanto, muitas das vezes os profissionais, famílias e a sociedade não reconhecem nos deficientes intelectuais a capacidade de escolha, tomada de decisões e iniciativa, criando, assim, um empecilho ao seu desenvolvimento. De acordo com Costa (2006), para Vygotsky o que define o desenvolvimento de uma pessoa não é a deficiência, mas as consequências sociais para que este desenvolvimento aconteça, tendo que esses indivíduos que superar não só os desafios da aprendizagem, mas também as dificuldades criadas pela deficiência.

Desta forma, o Serviço de Acolhimento Institucional Casa Lar, executado pela APAE- BH em parceria com a Sedese, tem buscado promover condições favoráveis para o desenvolvimento da autonomia de seus moradores, através de atividades cotidianas que estimulem e criem oportunidades para que cada morador expresse suas preferências, façam escolhas e tomem decisões. O serviço treina os moradores para exercerem sua autonomia e independência, o que vem a contribuir com o convívio social e também se constitui como instrumento fundamental para o processo de desenvolvimento saudável e de qualidade.

Mães sociais e auxiliares são orientadas a incentivar habilidades e competências individuais dos moradores, juntamente com toda equipe técnica, no que se refere ao direito de autonomia e suas particularidades. A partir de pequenas atividades diárias como escolher sua própria roupa, o que deseja comer, fazer escolhas quanto ao que quer comprar, engajamento em questões que lhe diz respeito, planejamento de atividades diárias, assim como dar seu consentimento às questões psicológicas e social. Proporcionando apoio naquilo que cada morador necessita e, assim, tenham uma boa qualidade de vida, pensando nas condições as quais eles possuem, para além de suas limitações.

Também estão sendo incluídas novas atividades voltadas para a promoção da qualidade de vida dos moradores, estimulando a iniciativa, expressão de sentimentos e desejos, interação com o grupo e estímulos motores à autonomia, o que contribui para melhor a autopercepção, a autoestima e o sentimento de pertencimento na sociedade.

Identificando o efeito deste trabalho no comportamento dos moradores das casas lares, a mãe social Luciana, da Casa Lar Planalto, relata como tem observado esse processo de desenvolvimento da autonomia com a moradora Aline: “Aline tem adorado escolher as roupas, ela sempre sorri! Quando não gosta de uma blusa, ou vê um buraquinho mínimo que seja, logo pede para trocar. Às vezes, não combina uma coisa com a outra, aí nós orientamos sempre, mas não escolhemos mais por ela”.

A moradora Maria de Fátima que antes necessitava ir para o trabalho acompanhada da mãe social, também relata com satisfação como se sente ao conseguir ir sozinha; “Estou achando ótima ir sozinha, eu aprendi ir e descer no ponto certinho, sem problemas. Sempre quando chego na Oi aviso a Dona Antônia que cheguei. Não estou tendo problema, sei o ônibus, sei o caminho, na volta vou para academia e ligo avisando que cheguei também”.

Para que esse trabalho seja efetivo e singular a cada morador, visto que cada pessoa com deficiência é única dentro do seu universo, ou seja, cada história é uma história, assim como o grau de autonomia e necessidades individual, é importante considerar o indivíduo e suas potencialidades. Quando se começa a trilhar este caminho, a pessoa com deficiência consegue alcançar seu papel de cidadão como parte integrante da sociedade, considerando suas limitações.

Buscando trabalhar por esta via, o serviço Casa Lar tem como um de seus pilares avaliar e acompanhar cada indivíduo sob a perspectiva da Escala San Martín (Verdugo et. al. 2016), instrumento que tem permitido estimar a qualidade de vida de cada pessoa com deficiência intelectual. No que concerne a dimensão autodeterminação, tem contribuído para direcionar as ações dos profissionais na busca da autonomia de cada morador e, consequentemente, para obtenção de resultados significativos ao longo dos anos desde as primeiras avaliações. Os gráficos abaixo apresentam os percentuais dos coeficientes de auto-determinação na escala San Mart do primeiro e segundo semestre do último ano, respectivamente.

A Escala San Martin é aplicada pela equipe técnica semestralmente.

A Escala San Martin é aplicada pela equipe técnica semestralmente.

Nota: A Escala San Martin é aplicada pela equipe técnica semestralmente.

Referências

AMERICAN ASSOCIATION ON INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL

DISABILITIES. Intellectual disability: definition, classification, and systems of supports. Washington, DC: AAIDD, 2010.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5 /; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … [et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Disponível em: <http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf.> Acesso em 23 de mar. 2020

COSTA, Dóris Anita Freire. Superando Limites: a contribuição de Vygotsky para a educação especial. Rev. psicopedag. vol.23 no.72 São Paulo, 2006. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000300007.>. Acesso em 23 de mar. 2020.

VERDUDO, Miguel et al. Escala de San Martín: Avaliação de Qualidade de Vida de Pessoas com Dificuldades Significativas. Fundacion Obra San Martin. Tradução Sofia Santos, António Rodrigo e Fernandes Gomes (2016). Disponível em <https://sid.usal.es/idocs/F8/FDO26729/manual_escala_san_martin_portugues.pdf >.

Acesso em 3 de abr. 2020.