A concentração começou antes mesmo da hora marcada, tamanha era a empolgação dos foliões. As marchinhas de Carnaval faziam o esquenta, enquanto mais e mais pessoas chegavam sob o lindo, forte e já saudoso sol de verão. Chegavam mães, crianças, jovens, adultos. Todos mal conseguindo conter a ansiedade de invadir o bairro de Santa Tereza. As fantasias estavam por todo lugar: flores, penas, brilhos, cores, sorrisos aos montes. Ah, se todos os dias fossem lindos assim!

Lá dentro, na quadra da APAE-BH, a APAEtucada começava a esquentar os tamborins e a se posicionar para invadir a passarela do samba, onde centenas de pessoas a esperavam inquietas, como se prontas para explodir de tanta alegria. E a APAEtucada começou a subir a rampa da APAE-BH até desaguar no rio de gente que estava na Rua Cristal. A APAEtucada pediu passagem e junto do trio elétrico e de todos aqueles foliões com fogo no pé começou a avançar pela Rua Grafito.

Lá na frente, o abre-alas cumprimentava quem estava no caminho. Em seguida, porta-bandeira e mestre-sala bailavam num vai e vem prazenteiro, fazendo reverência a todos os que paravam para assistir àquela lindeza que se aproximava. O carro de som dava o tom e amplificava a linda cantoria. No repertório, só música incrível, que qualquer folião sabe de cor. Música bonita, de letras ingênuas e felizes; de letra cantante e saudosa.

Na rua, pessoas com deficiência, pessoas sem deficiência, filhos, mães, pais, tias, avós, irmãos e irmãs, todas alegres, todas encantadas pela harmonia que a diversidade é capaz de promover. Tinha cachorrinha cadeirante com flor vermelha no dorso, tinha cachorrona já idosa vestida de fru-fru, tinha bebê dormindo gostoso no carrinho alheio à folia, tinha iogue, tinha a dona Marieta, que, aos 92 anos, não abriu mão da flor verde bem grande no cabelo. Tinha a meninada, cada uma com uma fantasia mais fofa. Tinha a menininha vestida de Batman, o rapaz vestido de Carlitos, o casal de bonecos gigantes e os cavalinhos, protagonistas da nossa Lenda do Boi, tinha a tchutchuca fantasiada de sereia, a pequetita vestida de Moana, as poderosas vestidas daquilo que de fato são: divas!

Tinha gente cumprimentando os foliões lá do alto da janela, tinha aqueles que saíam pelo portão para dar boas-vindas e aquelas que deixavam o choppinho gelado de lado para, ali mesmo do bar, reverenciar aquele pessoal que tão alegremente passava, transformando aquela tarde de sábado num momento que, de tão bonito, era tão comovente. Ali nas ruas do Santa Tereza, tinha os foliões tímidos, que fugiam da foto, aqueles que faziam de tudo para aparecer no registro da câmera, tinha aqueles que reuniam a turma toda, aqueles que tiravam fotos e aqueles que tiravam foto de quem tirava foto.

Lá estavam também muitos colaboradores da APAE-BH, cada um deles fazendo sua tarefa com muito amor: distribuíam água, recolhiam copos, monitoravam a corda, vendiam abadás, dirigiam o carro de apoio, ficavam de olho em cada detalhe, numa preocupação incessante para que tudo saísse conforme tanto sonhávamos. Estavam também a Polícia Militar, a Guarda Civil, os Bombeiros, a BH Trans, todos solícitos, todos extremamente gentis. E, claro, estavam também os patrocinadores e apoiadores, sem os quais nada daquela lindeza teria sido possível.

Na APAEtucada, os mestres davam o tom. Cantavam e marcavam o compasso daquele mar rosa que, com uma sincronia nota 10, inundava o coração de todos os que estavam por perto, tamanha a sua força. Mulheres, homens, mães, filhos, mais novinhos, mais vividos, baixinhas e altonas, suaves e vigorosos, mais sorridentes e mais concentrados. A diversidade ali é que dá o tom. Esse é o tom da APAEtucada!

No destaque, a Corte Momesca. Na rua, o rei, a princesa e duas rainhas de Carnaval: uma com deficiência, outra sem, ambas lindas, majestosas, perfeitas, recíprocas, absolutamente harmônicas. Olhando tudo isso, lá de cima, um mar de gente azul e rosa e colorida. Um mar de gente brilhante, alegre, contagiante, preocupada apenas em provar pelo caminho, com muita empatia e entrega, que o que importa mesmo neste mundo é cada um de nós, somos todos juntos, exatamente como somos. Juntos, incluídos e incluindo, seja aonde estivermos indo.

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