Desmistificando a Inclusão da PcDI no Mercado de Trabalho
Cenário Passado:
O estigma contra a PcDI – Pessoa com Deficiência Intelectual – constituía a principal barreira para a sua participação na sociedade. Existia muito preconceito e ignorância sobre a PcDI, que era vista por meio de estereótipos e comportamentos discriminatórios que impediam a sua inclusão no mercado de trabalho.
Algumas crenças equivocadas que existiam em relação à PcDI nas empresas:
- Eles constituíam um risco à segurança dos outros funcionários;
- Tinham menos competência e performance no trabalho;
- Apresentavam comportamentos imprevisíveis e estranhos;
- Eram pessoas problemáticas e com personalidade, que predispunham ao absenteísmo.
No passado, as iniciativas de formação para o trabalho eram norteadas por ambientes de segregação em instituições que “treinavam” pessoas com deficiência intelectual para a realização de tarefas padronizadas e em ambientes isolados. Como consequência, não havia interação e inclusão com a sociedade em geral.
Cenário Atual:
É preciso enfatizar que a responsabilidade social das empresas em contratar e manter funcionários com deficiência intelectual não prejudica sua lucratividade. Entretanto, é importante pensar em um trabalho decente e digno. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o “trabalho decente” refere-se à promoção dos direitos fundamentais: o emprego e a proteção social.
O que se busca, então, é uma qualidade de vida aceitável, baseada nas habilidades pessoais e profissionais da PcDI e não apenas a inclusão no mercado de trabalho. A autoestima e a dignidade da PcDI estão intrinsicamente ligadas à sua inclusão laboral e econômica.
Temos que registrar que, entre o mercado de trabalho e formação profissional, está o mais importante de todo este contexto: o indivíduo. É sobre ele que devemos debruçar nosso olhar e buscar alternativas capazes de garantir que tenham direito de exercer sua cidadania como as demais pessoas.
Com a construção de uma sociedade mais justa e consciente de suas ações, nas últimas décadas a PcDI tem tido a oportunidade de desfrutar de um vida em sociedade mais ampla e completa. Com a evolução do conceito de inclusão, a partir da década de 80 surgiu, o conceito de Emprego Apoiado, pelo qual as pessoas são capacitadas nos próprios locais de trabalho.
E é nesta metodologia – Emprego Apoiado – que a APAE-BH acredita e a utiliza, através do Programa Trabalho Emprego e Renda, onde todo o trabalho e desenvolvimento dos usuários estão centrados na ênfase da descoberta e valorização das potencialidades gerando a mudança das práticas anteriores, que focavam apenas nas limitações dos indivíduos.
Para o sucesso e eficácia do projeto de inclusão desenvolvido pela APAE-BH, algumas etapas são cumpridas:
- Perfil Vocacional: Identificação por meio da aplicação de avaliações / ferramentas específicas para a PcDI; descobertas de pontos fortes, interesses e necessidades de apoio.
- Vaga / Emprego: Identificar uma oportunidade de trabalho que combine com o perfil vocacional, em empresas dos diversos segmentos. Em seguida, verifica-se a compatibilidade entre o perfil da pessoa e o trabalho a ser realizado.
- Nessa análise são consideradas a cultura da empresa, a disponibilidade de apoios naturais e as exigências para execução do trabalho. Se necessário, é feita uma customização e/ou adequação da função, a fim de atender ao mesmo tempo a demanda da empresa e da PcDI que irá trabalhar.
- Sensibilização: Analisar o ambiente de trabalho, esclarecer e conscientizar os demais funcionários sobre o conceito de deficiência intelectual e a necessidade de apoios, comportamentos e como as habilidades das PcDI podem ser exploradas para um melhor desempenho de suas atividades.
- Capacitação e Acompanhamento: Treinamento para os funcionários-apoio das áreas que receberão a pessoa com deficiência intelectual. Verificação e implantação de estratégias e apoios. Adaptação de material impresso. Acompanhamento periódico in loco com o propósito de garantir a qualidade da inclusão, bem como intervir em situações e auxiliar no desenvolvimento profissional e da carreira da PcDI.
Finalizando, consideramos que o mundo do trabalho traz em seu cerne a complexidade das relações entre os indivíduos, as regras do mercado, as mudanças das sociedades contemporâneas. Autonomia, responsabilidade, intencionalidade no discutir as ações necessárias às PcDI, que envolvem desde o respeito humano, justiça e tantos outros elementos constituintes da existência humana, são questões que não se esgotam no cuidar do trabalhador e na busca de sua plenitude. O fundamental e primordial é poder garantir o empoderamento e a satisfação das pessoas com deficiência intelectual e de suas famílias, visando à participação de todos na construção de uma sociedade inclusiva.
Darlene Lôbo – Gerente do programa Trabalho, Emprego e Renda da APAEBH [vc_images_carousel images=”12280,12279,12278″ img_size=”full”]