O Serviço de Acolhimento Institucional – Casa Lar da APAE-BH acolhe 50 pessoas com deficiência intelectual advindas da extinta Fundação Estadual do Bem-estar do Menor (FEBEM), cujos vínculos familiares foram rompidos ou fragilizados.
São comuns os relatos de experiências de agressões e maus tratos vivenciadas pelos moradores no período anterior à vinda para a APAE, como por exemplo: pessoas trancadas em quartos, amarradas aos leitos, comendo lixo ou as próprias fezes.
A história de vida dos moradores da Casa Lar foi marcada por práticas coercitivas que interferem diretamente nas relações que estabelecem hoje e em determinadas atividades diárias. Uma das ações prejudicadas é o ato de comer e de como algumas pessoas veem os alimentos. Há casos de intensa seletividade alimentar e outros de compulsão, como o consumo de alimentos antes que estejam prontos (como carnes), no fato de esconder alimentos no quarto para consumo posterior e no comportamento agressivo diante de um alimento que evoquem lembranças desagradáveis.
O comportamento alimentar está ligado ao que o indivíduo conhece sobre alimentação e ao que sente em relação à comida. Os alimentos, de acordo com a visão de cada indivíduo, não determinam sua ingestão ou não. Isso depende de fatores como permissividade, facilitação social, familiar e cultural, e contexto socioeconômico.
Para que se entenda e se trabalhe adequadamente o comportamento alimentar, é importante notar como os indivíduos lidam com os alimentos, qual o valor que dão à comida em seu cotidiano, se a usam como um remédio, se a associam à alegria ou à tristeza, se apenas se permitem alguns tipos de comida em datas especiais ou se substituem emoções difíceis de lidar por refeições.
Dessa forma, a nutricionista e a psicóloga do Serviço de Acolhimento Institucional – Casa Lar da APAE-BH trabalham juntas na definição das melhores condutas de apoio ao morador, na tentativa de compreender o “por que”, “para que” e “como” a pessoa interage com a comida e o que a faz manter este padrão alimentar. Este trabalho consiste em realizar ações contínuas e permanentes, tanto junto às mães sociais e auxiliares que trabalham nas Casas Lares, como também aos moradores, considerando a abordagem proposta pela nutricionista e pela psicóloga comportamental.
Um dos grandes desafios é levar as mães sociais a mudarem seu comportamento e melhorarem os hábitos alimentares, em benefício da saúde emocional e física dos moradores. Por isso, durante as visitas domiciliares, são realizadas intervenções, capacitações, oficinas e atividades lúdicas, considerando as funções simbólicas da comida, de modo que as necessidades nutricionais, culturais e simbólicas dos moradores sejam atendidas.
Trabalhar essas questões é uma tarefa diária, constante e desafiadora, porém necessária para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar físico e emocional de todos os moradores, bem como para melhorar sua relação com a alimentação.
Maysa Marques Marçal – Nutricionista
Sílvia de Castro Stehling – Psicóloga
REFERÊNCIAS:
ALVARENGA, Marle. Nutrição Comportamental. São Paulo: Manole, 2016. 1261 p.
KLOTZ-SILVA, J. Hábitos alimentares e comportamento alimentar: do que estamos falando? 2015. 75 f. Tese (Doutorado em Alimentação, Nutrição e Saúde) – Instituto de Nutrição, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.