A autodeterminação é um processo de desenvolvimento que emerge ao longo da vida e que se incrementa através da interação da pessoa consigo mesma e com o meio em que vive (família, sociedade). A autodeterminação está associada ao direito que cada um tem de “governar” ou dirigir sua própria vida.
São muitas as definições que se tem dado a esse processo, e uma das mais difundidas define a autodeterminação como “ações que expressam as escolhas e decisões que capacitam a pessoa para atuar como principal agente causal de sua própria vida para manter e melhorar sua qualidade de vida” (Wehmeyer, 2005, p.117).
Trabalho, Emprego e Renda é um serviço oferecido pela APAE-BH que tem a finalidade de estimular o desenvolvimento da autodeterminação, das habilidades sociais e comportamentais das pessoas com deficiência intelectual e múltipla/autismo, características necessárias ao ambiente organizacional, visando à sua colocação no mercado de trabalho.
Nos Grupos Operativos de Primeiro Emprego, o foco está no desenvolvimento de posturas e habilidades necessárias às atividades laborais para promover o enriquecimento dos conhecimentos dos usuários, bem como ampliar suas capacidades e adequar suas atitudes e/ou comportamentos, aumentando suas qualificações técnicas e comportamentais, com vistas à sua maior participação na sociedade, realização e, principalmente, sua felicidade.
A avaliação da autodeterminação é relevante, pois envolve a capacidade dos usuários de realizar escolhas, tomar decisões e assumir responsabilidades, fazendo do trabalho uma atividade que traduz satisfação de suas necessidades pessoais, econômicas e de relacionamento.
O trabalho não é apenas “trabalhar”, mas “internalizar” o papel de trabalhador, reconhecer o seu poder, assumir as responsabilidades e direitos envolvidos e, por meio desse papel, aceitar o dos outros, quer dizer, fazer parte da sociedade.
Então, para ser inserida no mercado de trabalho, a pessoa com deficiência precisa desenvolver a autodeterminação, composta pelas quatro dimensões trabalhadas na APAE-BH:
- Autoconhecimento: capacidade de se conhecer e identificar suas limitações e habilidades;
- Autonomia: capacidade de agir por conta própria, observando suas preferências, aptidões e interesses;
- Autogestão: capacidade de se autogerir, adotar comportamentos de autocontrole e de resolver problemas;
- Empoderamento: capacidade de dominar a própria personalidade, de saber que é capaz, de conhecer seus direitos e fazer de tudo para atingir o seu objetivo.
A aplicação do conceito de autodeterminação a pessoas com deficiência é muitas vezes posta em causa pela forma como ela é definida e operacionalizada.
As escolhas, desejos e aspirações de uma pessoa com deficiência têm que ser tomadas em consideração com todas as ações que lhe digam respeito. Afirmar a individualidade na família, na escola, no trabalho ou com os amigos é difícil para muitas pessoas e particularmente difícil para alguém que tem uma deficiência ou é percebido como desvalorizado.
Para que a autodeterminação de uma pessoa com deficiência intelectual seja possível e bem-sucedida é necessário que todos a vejam como uma pessoa talentosa e capaz de participar ativamente da comunidade.
Ou seja:
- Todas as pessoas são autodeterminadas;
- A deficiência ou incapacidade não são obstáculos para alcançar a autodeterminação;
- Promover a autodeterminação implica acreditar que cada pessoa é única;
- Ter limitação ou deficiência intelectual não significa ter dificuldades para decidir e projetar sua própria vida;
- Ter necessidade de apoios específicos não é sinônimo de incapacidade ou empecilho para a autodeterminação;
- As pessoas com deficiência intelectual são protagonistas da sua vida e sabem tomar decisões;
- Reforçar positivamente comportamentos, aptidões e potencialidades; e não evidenciar limitações e deficiências.
Izabella Paulino – Gerente do Trabalho, Emprego e Renda