Criado em 1997 o serviço Casa Lar tem oferecido acolhimento e assistência integral a 50 jovens, adultos e idosos com deficiência intelectual (DI) egressos da extinta FEBEM.

O serviço, desenvolvido em parceria com a SEDESE (Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social) tem por objeto promover e construir progressivamente a autonomia, a inclusão social e desenvolvimento das capacidades adaptativas dos moradores, visando à melhoria da qualidade de vida. Eles vivem em unidades residenciais, divididas em dois polos regionais: Santa Tereza e Barreiro.

Devido ao envelhecimento dos moradores da Casa Lar surgiu a necessidade de pensarmos sobre as implicações do processo de envelhecimento na pessoa com DI e os reais impactos dessa fase do desenvolvimento na qualidade de vida dessas pessoas.

Conforme conceituação da Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento (AADID), pode-se entender a DI: “como a incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo, com prejuízo das habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas.” (AADID, 2010, p. 01). Partindo da constatação de que o envelhecimento por si só já tende a trazer uma série de complicações para a saúde física e mental das pessoas em geral. No caso especifico da DI, além das patologias que podem surgir com o processo de envelhecimento típico, outros fatores ainda devem ser considerados como agravantes por comprometerem disruptivamente as capacidades adaptativas e funcionais dos indivíduos.  Nesse sentido, destacam-se como agravantes a associação da DI com outros transtornos, tais como: transtorno do espectro autista (TEA), transtornos depressivos e as neuropatias, como doenças neurodegenerativas (parkinsonismo, esclerose múltipla e Alzheimer). Esses fatores podem dificultar o prognóstico da DI na velhice, uma vez que há uma tendência a tratar com menor relevância às patologias associadas ao processo de envelhecimento, confundindo-as com variações da DI. Com esse raciocínio errôneo incorre-se no risco de relegar os fatores comórbidos para um segundo plano de intervenção e cuidado.

Quando somados à baixa qualidade de vida, os efeitos incapacitantes podem ser ainda mais acentuados, desencadeando diversos impactos à saúde da pessoa com DI. Pensando nisso, o serviço Casa Lar busca criar estratégias preventivas para minorar os impactos do envelhecimento nos moradores, por meio da promoção e incentivo a modos de vida mais saudáveis, com a participação ativa dos indivíduos na construção da sua autonomia, protagonismo e processo decisório.

O serviço de acolhimento Casa Lar dispõe de uma equipe multiprofissional composta por gerente, gerente administrativo, nutricionista, enfermeira, assistente social, psiquiatra e psicólogo que acompanham diariamente os moradores. Foi por meio desse trabalho que conseguimos identificar algumas comorbidades associadas à DI que, ou teriam origem em fatores emocionais, ou que manteriam fortes relações com esses. Isso nos trouxe o seguinte questionamento: Como poderíamos minimizar os impactos das doenças associadas ao processo de envelhecimento dos moradores da Casa Lar?

Ressalte-se a importância de trabalharmos o contexto na busca de uma mudança de perspectiva que minimize os obstáculos, criando condições favoráveis ao apoio à pessoa com DI. Deve-se priorizar o investimento em lazer, inserção social e saúde mental dos moradores, favorecendo condições de vida mais saudáveis. Assim, faz-se necessário pensar em estratégias com a finalidade de preparar as pessoas com DI para o envelhecimento, por meio de intervenções em Grupo Operativo e construção de planos individualizados de assistência e cuidado continuados.

 

Douglas Felipe Murta Marques

  

REFERÊNCIAS

 

  • ASSOCIAÇÃO AMERICANA SOBRE DEFICIENCIA INTELECTUAL E DESENVOLVIMENTO (AADID). Retardo Mental: definição, classificação e sistema de apoio. Tradução: Magda França Lopes. 10. Ed. Porto Alegre: Armed, 2010.
  • GUILHOTO, Laura. LEONDARIDES, Maria Regina. CASTRO, Leila. SENA, Simone et al. Envelhecimento e Deficiência Intelectual na Grande São Paulo., in: Revista Deficiência Intelectual, ano 5, nº 7 de 2014. São Paulo –SP. Disponível em: https://apaebrasil.org.br/uploads/5386-artigo_envelhecimento.pdf. Acesso em: 31/05/2019.
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).Censo 2010. Brasília. Disponível em: sidra.ibge.gov.br/tabela/5645#resultado. Acessoem: 31/05/2019.
  • NOVELL, R. et al. SENECA: envejecimiento y discapacidadintellectualenCataluña 2000–2008. Informe ejecutivo. Cataluña: FederaciónCatalana Pro-personas conDiscapacidad Intelectual, 2008
  • ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Expectativa de vida aumenta para 75 anos nas Américas.Brasília, DF, Brasil 26 de jan. 2017. Disponível em: www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5504:expectativa-de-vida-aumenta-para-75-anos-nas-americas&Itemid=875. Acesso em: 31/05/2019.
  • ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. OPAS/OMS apoia governos no objetivo de fortalecer e promover a saúde mental da população.Brasília, DF, Brasil 10 de out. 2016. Disponível em: www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5263:opas-oms-apoia-governos-no-objetivo-de-fortalecer-e-promover-a-saude-mental-da-populacao&Itemid=839. Acesso em: 31/05/2019.
  • PORTELA, Marilene. COLUSSI, Eliane. GIRARDI, Mirtha. Percepções de envelhecimento e velhice entre adultos com Deficiência Intelectual, in: Revista Deficiência Intelectual, ano 5, nº 9, jul/dez de 2015. São Paulo –SP. Disponível em: www.apaesp.org.br/pt-br/sobre-deficiencia-intelectual/publicacoes/PublishingImages/revista-di/artigos_pdf/DI_N9.pdf. Acesso em: 31/05/2019.
  • SILVA. Alice. SILVA. O processo de envelhecimento em pessoas com deficiência Intelectual. In: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. V. 1. Paraná, 2016. Disponível em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/2016_

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