O Grupo de Fala é uma das ações de reabilitação da Gerência de Promoção da Saúde, da APAE-BH. Este Grupo trabalha com crianças dos quatro aos oito anos de idade que apresentam desvio fonético/fonológico, a fim de proporcionar mudanças no seu padrão de fala para adequar a produção fonêmica e melhorar a inteligibilidade de fala.

As repercussões que os distúrbios de fala ocasionam podem influenciar as relações do indivíduo com o meio, sua autoimagem e aprendizagem. As alterações de fala podem interferir negativamente na vida das crianças, como por exemplo, em seu desenvolvimento escolar. Isso ocorre porque a fala é repertório básico para o processo de alfabetização e, por este motivo, os erros nela ocorridos também poderão ser apresentados na escrita. Outro agravante na vida escolar é a discriminação que a crianças pode sofrer por parte dos colegas, devido ao fato de falar de forma incorreta. Tal aspecto pode dificultar a comunicação e a interação social.

Durante os atendimentos foram observados problemas de comportamento como timidez, dificuldade para seguir regras, esperar sua vez para falar e de desorganização cognitiva e física. Essas questões são vistas como barreiras para aquisição de novas aptidões relacionadas ao treino de fala. A inclusão da Psicologia e da Terapia Ocupacional ao Grupo de Fala tem o propósito de auxiliar no desenvolvimento dos déficits subjacentes às questões de linguagem, favorecendo a organização do comportamento das crianças com atividades diversas (brincadeiras, jogos, manipulação de objetos trabalhando a causa final, a causa eficiente, a causa formal e a causa material) que envolvem sempre a comunicação- emissão.

Como resultado dessas intervenções, citamos a melhora nos seguintes aspectos:

  • Atenção;
  • Concentração;
  • Permanência;
  • Sequência lógica dos fatos e ações;
  • Memória declarativa e adquirida;
  • Memória de procedimento, associativa e não associativa;
  • Organização do conteúdo a ser falado com inicio, meio e fim;
  • Diferenciação entre comportamentos assertivos e não assertivos;
  • Identificação e reconhecimento de aspectos positivos no outro;
  • Expressão de sentimentos;
  • Aceitação de críticas e reflexão sobre elas;
  • Desenvolvimento da afetividade entre os participantes;
  • Capacidade de se expressar publicamente;
  • Compreensão das regras e monitoramento do cumprimento delas.

As abordagens terapêuticas tiveram uma ampla visão, pensando em cada criança como um indivíduo com desejos subjetivos e que necessita de experiências sociais para expandi-las. Nesse contexto, tentamos resguardar um aspecto fundamental para a aquisição de conhecimento: o afeto.

O dicionário da língua portuguesa (Houaiss,2001, p. 102) apresenta o seguinte significado para a palavra afeto: 1 sentimento terno de adesão. 4 reação de agrado ou desagrado com relação a algo ou alguém; simpatia ou antipatia. 6 Psico. sentimento ou emoção em diferentes graus de complexidade. 11 Psican. expressão qualitativa da quantidade de energia das pulsões. 13 expressão de viveza…, estado físico, sentimento, vontade.

A partir destas definições podemos ver o quanto a afetividade está diretamente ligada à construção do conhecimento e da memória, sendo fundamental no processo de desenvolvimento cognitivo e moral da criança.  As variabilidades das emoções diante de fatos cotidianos necessitam de autocontrole, que será adquirido através de experiências multissensoriais ambientais e interpessoais.

A memória é a capacidade do ser humano de conservar o que foi experimentado em tempo anterior e, a partir daí, aperfeiçoar sua capacidade de imaginação, reinvenção, resolução de problemas, raciocínio lógico e elaboração de estratégias.

Somos seres de memórias.  E através de nossas condutas processamos e externamos as informações e vivências que estão arraigadas de aspecto afetivo.

E por que abordar essas questões se estamos tratando de um grupo de fala?  Porque a necessidade de agir e se comunicar vêm do desejo, e isso faz parte do desenvolvimento mental do ser humano. Os desejos precisam ser cultivados e estimulados, de modo sutil e adequado à idade, para que nossas crianças se identifiquem como sujeitos, por meio da interação com o mundo e que ao se expressarem através da linguagem possam ser locutores e receptores de experiências. Este é um ciclo que irá aprimorar cada vez mais suas habilidades sociais, cognitivas e afetivas.

“Nada está no intelecto antes de ter passado pelos sentidos”. Aristóteles

  • Natália Scorvo – Fonaudióloga
  • Débora Izidorio – Psicóloga
  • Natália Germana – Terapeuta Ocupacional

Referências

CAUMO DT, Ferreira MI. Relação entre desvios fonológicos e processamento auditivo. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(2):234-40.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.

Platão e Aristóteles: o embate entre a razão e os sentidos. Disponível em: http://neinordin.com.br/platao-e-aristoteles-o-embate-entre-a-razao-e-os-sentidos/. Acesso em: 16 mar. 2018.

Treinamento de Habilidades Sociais em Grupo: Uma Intervenção com Tarefas Lúdicas. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472011000100005. Acesso em: 07 mar. 2018.

Treinamento de habilidades sociais em crianças: como utilizar o método vivencial. Disponível em: http://www.rihs.ufscar.br/wp-content/uploads/2015/02/treinamento-de-habilidades-sociais-com-criancas-como-utilizar-o-metodo-vivencial.pdf. Acesso em: 5 de mar. 2018.

TRINDADE, Elizabeth Alves Xavier. A importância da afetividade no aprendizado. Rio de Janeiro, Universidade Candido Mendes, 2006.

WERTZNER HF. Fonologia (Parte A). In: Andrade CR, Befi-Lopes DM, Fernandes FD, Wertzner HF. Teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. São Paulo: Pró-Fono; 2000, cap.1, p. 5-40.