Na educação da atualidade, a didática escolar deve ser baseada na premissa de que todo ato educativo tem especificidade própria, variando conforme as circunstâncias do contexto em que ele ocorre.

Essa didática deve estar permanentemente contextualizada e conectada, tanto com o sujeito que aprende (o aluno), quanto com o mundo onde ele vive e com o qual convive. Uma ação didática significativa e efetiva é aquela que consegue intervir na realidade educativa, garantindo sua consistência pedagógica.

A Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada pelo político europeu Jacques Delors, elaborou e organizou o relatório para a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura) no qual se exploram os Quatro Pilares da Educação: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a conviver e Aprender a ser.

A Educação deve ser estruturada em torno desses quatro aprendizados considerados fundamentais que, ao longo da vida de cada pessoa, se tornarão os pilares de seus conhecimentos.

Para tanto, pode-se partir de indagações  sobre:

  • Como ensinar os alunos a colocarem em prática seus conhecimentos?
  • Como contextualizar suas aprendizagens em suas atividades cotidianas?
  • Como adaptar o Ensino às possibilidades futuras que são imprevisíveis?

A ideia é encontrar conhecimentos e aprendizagens adequadas para garantir a qualidade e efetividade das mesmas.

Entretanto, nem todos se deram conta de que não apenas a escola, mas, também, e sobretudo, as famílias necessitam estar plenamente afinadas a essas metas, construindo-as no âmbito do lar. Portanto, separar escola e família e pensar no futuro é, mais ou menos, como isolar o amor e a emoção, achando que um desses sentimentos possa verdadeiramente existir sem o outro.

É evidente que o enfoque específico desses pilares torna-se diferente quando estimulado no lar e na escola. Afinal, o lar prepara o futuro pensando na felicidade dos filhos e seu eventual sucesso como elemento complementar a essa felicidade. A escola inverte a ordem e prepara o aluno para a cidadania e o mundo do trabalho, visando ao sucesso e sabendo que este será, quase sempre, o veículo que o levará para a felicidade.

Assim sendo, o primeiro pilar na sala de aula subverte a informação e a submete à aprendizagem e, portanto, a preocupação maior é ensinar o aluno a aprender em vez de dominar conceitos, até mesmo pela rapidez com que estes se transformam. Na família, o primeiro pilar refere-se mais ao aprender a conhecer e, assim, a fazer uma leitura do tempo e do espaço, tendo como referência  pessoas e valores e como estratégia, sua prática nas relações pessoais. Aprender a aprender ajuda a criança a aprender a conhecer, mas quanto mais essa criança conhece, seguramente, melhor aprende.

O segundo pilar tem foco similar; no entanto, enquanto a escola ensina e disponibiliza o aluno para o outro e para a aceitação das diferenças, encaminhando-o para trabalhar em grupo e despertando o sentimento da associação e do compartilhar; na família, o ensinar distancia-se de grupos etários homogêneos e leva à bela descoberta da amizade entre idades diferentes, entre gerações que, distantes no tempo, compartilham espaços iguais. Mais uma vez, o aprender sobre o outro aproxima a escola e a família, mesmo que sugerindo situações diferentes.

O terceiro pilar também tem significações diferentes na escola e na família. O saber fazer na escola implica a capacidade de contextualizar o que se aprende no mundo em que se vive e se convive, enquanto o aprender a fazer no âmbito familiar é exercitado nas ações da criança e do adolescente na consolidação de sua participação familiar que fortalece a união e busca metas comuns. Afinal, a felicidade familiar é uma lenta e progressiva construção consolidada pela proximidade.

É apenas no quarto pilar, entretanto, que escola e família – sempre muito próximas nos pilares anteriores – verdadeiramente se identificam, pois quem aprende a aprender, aprende a conhecer e quem alcança essa meta é capaz de bem se relacionar bem e transformar pensamentos em ações, distanciando o consumismo do “ter” da essência plena do “ser”. Enfim, aprende-se a ser mais, ser melhor, “ser” humano com a plenitude irrestrita que a ambiguidade dessa palavra (ser) abriga.

A discussão sobre como envolver a família no processo de aprendizagem na escola não é recente. Promover a corresponsabilidade exige desafios, mas a mudança e a perspectiva de integração entre família e escola devem ser incentivados e analisados constantemente.

Logo, deve haver um estreitamento das relações entre família e escola na busca de uma qualificação mais eficaz, evitando-se uma confusa transferência de responsabilidades entre ambas as partes para alcançar o bom e saudável desenvolvimento dos educandos.

A instituição e a família são parceiras neste processo e nenhuma delas poderá realizar todo o processo de construção de saberes trabalhando isoladamente.

Lucianna Gontijo – Diretora da Escola Especial Oficina Sofia Antipoff – APAE-BH

 

Referências Bibliográficas:

ACKERMAN, N. W. Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

ARTICULISTAS. Os quatro pilares de uma educação para o século XXI e suas implicações na prática pedagógica. Texto de Zuleide Blanco Rodrigues, s/a. Disponível em: http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_artigo.asp?artigo=artigo0056

FOLHA DE SÃO PAULO. Conceito dos quatro pilares da educação ganha explicação de Celso Antunes. Livraria da Folha, 2010. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/821418-conceito-dos-quatro-pilares-da-educacao-ganha-explicacao-de-celso-antunes.shtml

PÁGINA OFICIAL. Celso Antunes: Pilares da Educação. Disponível em: http://www.celsoantunes.com.br/pilares-da-educacao/

PEDAGOGO ACADÊMICO. Os 4 Pilares da Educação. Texto de Daniella Magnini Baptista, 2011. Disponível em:  http://pedagogoacademico.blogspot.de/2011/04/os-4-pilares-da-educacao.html